Joana estava preocupada com o velho cliente sentado na mesa. Joana estava de volta, também: era ela a garçonete agora, a outra provavelmente fora embora. Não tinha o mesmo carisma.
O velho tossia pesado, pulmões cheios de sabe lá deus o quê. Bebia um uísque aos poucos, como se fosse xarope. Sorria para Joana quando ela passava e, assim que ela ia embora, tossia um pouco mais. "Inverno filho da puta", dizia baixinho, "se eu pudesse dava um tiro nele".
A jukebox tocava um jazz arrastado dos anos 40. Vez por outra vinha do palco um gemido da guitarra elétrica, passagem de som de uma banda de blues. O cara era bom, tocava com a alma. Olhando ao palco se via a guitarra tocada por mãos de fantasma, por mãos descarnadas. A alma era tudo que tocava.
O velho tossia. Joana foi à mesa levar mais um copo e a porta do bar se abriu. Entrou por ali um ser meio estranho, metade homem metade algo, ouvindo pelos alto falantes do telefone celular uma música ruim de dar dó. Não deu nem dois passos e Joshua o barrou:
- Daqui pra fora. O Clube não é ambiente para o senhor. Obrigado, não volte sempre.
O velho, entre uma tosse e outra, perguntou a Joana o que havia havido. "Sabe como é", disse o velho, "sou velho e não estou nessa inteirado de tudo".
- Joshua não gosta de Michel Filó.
O jazz ainda rolava enquanto, do palco, vinha o som gentil do choro da guitarra.
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