Ele estava sentado ao canto do bar, bem longe do palco, enquanto no palco tocavam um som do Caribe. "Calypso Callaloo", pensou o negro solitário ao canto do bar. "Ê, Calypso, ê!".
A noite era fria e havia u'a neblina descendo do céu. Isso lá fora, claro, porque no Clube a neblina saía da altura dos joelhos do velho Walter, um cheiro adocicado de máquina de fumaça. O negro sozinho no canto fumava sua própria fumaça, bem mais amarga. Quando o jogo de luzes do palco girava um pouco, os raios coloridos iluminavam a careca do sujeito. Ele, pensando "Calypso, ê...", só fumava.
Uma família indiana, passando pela cidade, ouviu falar desse Clube e foi lá pra ver. Sentaram a um canto, no extremo oposto da sala, e eles e o negro sozinho eram os únicos lá, naquela noite. Além de Joshua, da garçonete nova estranha e, é claro, do velho Walter.
A garçonete perguntou ao negro se ele queria algo. A família indiana perguntou à garçonete se eles podiam acender um incenso. O negro queria cachaça. A garçonete disse que, com tanta fumaça, um incenso a mais ou ao menos não daria nada...
A cachaça chegou, enquanto o incenso queimava. O velho Walter do Callaloo continuava a tocar, enquanto as crianças da Índia corriam o salão inteiro. Era noite só de travessuras, pensou o negro isolado em seu canto.
Quando a porta abriu para uma linda mulher de cabelos vermelhos entrar, entrou também uma corrente de ar. O vento gelado rodopiou o incenso indiano e o negro viu, do outro canto, que a fumaça virava uma enorme borboleta.
Quando a ruiva sentou com o negro, ele soprou a fumaça do tabaco. Primeiro em círculos, depois em rodamoinho. "Rodamunho", disse a ruiva. Seu sorriso era felino.
Lá fora passava voando um morcego, a noite escura era fria e o negro, no Clube, coçava a única perna que tinha.
Gostei muito do seu texto Leandro.
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