Fecho meus olhos e estou no clube. A dor cessa por uns instantes e música nasce nos ouvidos. Um homem toca um violão surrado, com barba por fazer e voz arranhada. Se não fosse um blues, sua voz estragaria tudo.
Passeio pelas mesas escolhendo qual delas vou prestar atenção hoje. Pedir uma bebida leve e observar cada mesa. É o que faço a maioria do tempo, observar as pessoas e escrever. Sou um escritor com pouca criatividade, preciso da realidade para tecer minhas fantasias.
Abro os olhos, a casa inerte. Fecho, e a bebida gelada escorre do copo. Meu cansaço não permite que encontre ninguém interessante. Ana está bêbada, como sempre. E não quero fode-la em pensamentos, bastou-me uma vez real. Meus amigos parecem felizes em seu canto, diferentemente de mim.
A noite está mais vazia por dentro do que fora. De olhos abertos, vendo as marcas podres do quarto, ao menos escuto um silêncio que me conforta mais. Meia hora dentro do pub, o velho do folk foi embora, dando espaço para um gordinho cheio de fazer falsetes. Decido ir embora.
Acabo a noite na frente de casa, acariciando um felino com um machucado no rosto. Seu miado são cordas desafinadas de violão. Caminhando para lá e para cá, nas minhas pernas, parece em sintonia comigo. Ficamos os dois lendo o silêncio.
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