- Li Ignácio de Loyola Brandão falando sobre Biel García Márquez. Pois bem, dizia o primeiro velho que o segundo dizia assim: “existem personagens com nomes ruins, nomes que não combinam. Quando os nomes não encaixam no personagem, fazemos uma pessoa que não é ninguém. Construímos um nada”. Era mais ou menos isso que ele falava, que um falava do outro.
Tomo mais um gole da cerveja.
- O que vocês não entendem, caras, é isso. O lance não está só no pôr nome a personagens. Antes fosse. O lance tá mesmo em nomear coisas na vida. Pessoas, mais especialmente. Imagina, eu mal lembro os nomes com quem deito. Nem na hora deitada, nem nada. Imagina depois...
Joana, a garçonete, passa ao lado da mesa. Sorri pra mim, sacanamente. Dela eu lembro o nome, ao menos. Acho que é coisa de convivência.
- Quando a gente escreve e não põe os nomes certos nas pessoas certas, as pessoas viram nada. Elas não existem. A mesma coisa acontece com as gentes. Com a gente, até.
Joana passa de novo e deixa na mesa, à minha frente, um papelzinho. Raquel, e um número. É o que está escrito. Raquel e um número. Sem um horário. Joana olha torto, mas sorri. Pra ela é também brincadeira. Nada sério. Joana. Raquel não sei quem é. Não lembro.
- Enfim, a coisa toda é essa, e só. Se não têm os nomes que encaixam, a coisa toda que já se fez não é nada. É sempre uma busca louca por uma boca que fale um som que me diga algo. Mas elas não dizem.
Rio, a cerveja espirra pela mesa. Lembro do menino Charlie Brown na escola, do efeito bla-bla-bla que é o abrir e fechar da boca da professora, enquanto tudo que sai de som é, naturalmente, bla-bla-bla. O papelzinho da mesa, com o nome de Raquel, está agora no meu bolso. Sete anos de pastor Jacó servia...
- É, eu sou um grandessíssimo filho da puta. Hey, Joana! Traz mais uma.
José Arcadio & Aureliano cercado de nomes por todos os lados. Depois disso quantos anos de solidão, como mais esse, teremos? Se as palavras já deslizam pelas HP (ou blogues!) como rios tímidos e acuados?
ResponderExcluirTalvez vcs subam aos céus, de corpo e alma, carregados por borboletas...
Enquanto isso Caronte tem mesmo pouco trabalho, os remos já se enferrujam...
O visual aqui tá lindo!
GI
Raquel...
ResponderExcluirLia
Joana!
Depois
uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa...
Pra preservar a ternura
ResponderExcluirmude os nomes pra
"meu bem"...
Regra prática, doçura...