De batismo, seu nome é Julio. Mas poucos o conhecem assim. No clube é Eddie. Não por desejo de possuir um nome americanizado, mas pela semelhança explicita com o cantor Ed Motta.
Está quase na casa dos trinta, gordo como um rei momo, cabelos curtos ralos em cima e uma promissora barba que contrapõe a queda superior. Dança como ninguém, principalmente rockabilly.
Basta o jukebox tocar uma música antiga que, não importa onde, anima-se e vai para o pequeno espaço improvisado de pista de dança. Sozinho, dança. Balança a pança, anima o pub. Não parece ter o peso que tem, vira pluma, desafia a gravidade. Dizem que aprendeu os passos com uma antiga namorada. Dança sem afetação, tem swing.
Acompanha a música em breves gritos, faz o som de instrumentos imaginários. Joshua, o dono, mal conhece Eddie, mas sente simpatia. Sabe que as quartas não deixa de vir, bebe um bocado e não fica ébrio. Porém, o que mais lhe surpreende é sua presença na pista quando uma canção antiga toca no jukebox. Aparece, as vezes, sem que alguém saiba de onde, como se surgisse no ar.
O cansaço não para Eddie, nem as bolas de suor que vão marcando a blusa a cada música. Sai da pista apenas entre as músicas escolhidas, bebe de um gole um copo de cerveja e volta. Pode emendar uma hora de dança, sem repetir coreografias, em compasso ritmados que na década de setenta, talvez, eram tido como novos.
É Joana que, ganhando uma gorjeta de um cliente, coloca duas moedas na Jukebox. O barulho frenético a cansa, a noite é cheia, aperta o número 7, coluna D, quer relaxar. Eddie aguarda em silêncio mais uma canção agitada, mas o arfar de seus pulmões cessa rapidamente, iniciando uma tensão que começa pelos pés e termina nos olhos arregalados.
Está quase sozinho na pista e uma canção lenta começa a tocar. É o momento mais desgraçado para Eddie.
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