Especulam que um crime nunca pode ser considerado perfeito por conta de seus perpetuadores. Aquele que realiza o ato, não importando se cedo ou tarde, cometerá um erro que propiciaria a descoberta. Dessa maneira, estando à margem de seus erros, especialistas afirmam que a completude de um crime pode ser estabelecida apenas com a morte daquele que a executa.
Alguém capaz de eliminar as provas físicas do crime, tendo como último erro sua mente, anularia futuros desencontros em sua execução e consagraria a concepção de um crime perfeito, em que assassino e assassinado mantém o mesmo peso perante a morte.
A lição que custou-me a vida pela demora do aprendizado. Eu imaginava que a morte como um esporte traria uma espécie de quietude para minha alma sempre revolta.
Mas me enganei. Quando você se torna um ceifador, a morte também cobra seu preço.
As leituras tornaram-se pequenas demais para mim, apesar da biblioteca imensa. Livros que dissecavam a mente dos psicopatas mas não me preenchiam com a pergunta que sempre me perseguiu, qual o gosto da morte?
Então, tentei ser um homem correto. Me dediquei a disciplina que adquiri em livros, tentando planejar um crime sem rastreamentos. Luvas, armas afiadas, material de primeira qualidade para transformar as evidências explícitas de um crime em uma morte casual. Mas na forte facada contra o peito, não foi o sangue que me surpreendeu. E sim a sensação que confirmava que a cidade continuava com ou sem o assassinato que cometi.
A contagem de corpos ampliou-se, assim como a técnica. Concebi na prática o esforço teórico. Mas a morte tornou-se parte de mim. Como água, comida, café, sem nenhuma mudança real.
Foi após o quinto assassinato que sucumbi. Alguém que me reconhecia pelo coleguismo passado. Desesperei-me e, nervoso, mal consegui retirar-lhe a vida. Minha consciência patética tomou conta de mim.
A imagem que eu criava de alguém superior, nas literatura e nos livros históricos, era uma bobagem. A morte e o sangue não me fez melhor, apenas mais miserável. Era como se, cada vez mais, eu cortasse minha garganta sem nunca morrer. Sufocando em mim.
Minha imagem virou semelhante a qualquer um. Ocultando um segredo que me dilacerava. Percebi minha parcela de pecado. Não era a morte que me faria diferente e sim a vida que havia em mim. O quanto a preservava que deixa-me isento de culpas. Mas minha consciência tornava-se a pior das evidências. Era faca encravada no crânio que me agonizava sem parar.
Mas foi tarde. Eu já havia me tornado uma espécie de crocodilo, enrugado e com as garras afiadas. Restava-me aguardar o encontro frio entre a morte e minha lâmina.
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