O vento gritou um grito agudo, lá fora, enquanto ventava em torno da casa.
- Não. Não posso ir. Não vou.
O homem permanecia em silêncio, olhando as árvores dançando na pouca luz da meianoite. Ela dizia que não ia, não ia, não ia, ele pensava, ela só dizia isso.
- E não vou mesmo. Chega, acabou. Eu fiquei quando você foi, fiquei lá, e chorei, e só eu passei mal, só eu passei. Você nem sabe, nem imagina, não suspeita a porra da dor que doeu em mim...
De fato não suspeitava. Olhando as árvores lá fora, enquanto a mulher falava rápido e quase gritando, ele não suspeitava, também, que a dor que doía nele era tão grande quanto. Não suspeitava que era até maior. Olhava os galhos batendo uns nos outros, tocando no vidro da janela, e ouvia mais um gemido agudo do vento rondando, rodando e rindo.
- Não é pelo que a gente teve, nem porque tenho medo. Não é por nada. É só porque acabou, desgraça, só porque você foi e eu fiquei, e agora é só, eu fui também. Não volto, não vou, não posso.
Ele ouvia.
- Não quero. Quanto tempo, diabos, quanto tempo você acha que isso duraria? Quanto tempo acha que teríamos ainda juntos? Porra!, quanto tempo acha que VOCÊ aguentaria?
No terceiro grito do vento ele viu, sobre a árvore que dançava, uma mulher lânguida e pálida, com um forte e rosado riso de escárnio. Sorrindo sem vontade, tirou os olhos lá de fora e pensou, triste, enquanto ela ia embora, que não teria nem mais três dias pela frente.
- Nem mais três dias...
- Sim. Posso ir. Vou.
ResponderExcluirquantas vezes eu disse que sim. e depois ouvi não.
adorei o post!
:)
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