domingo, 9 de maio de 2010

Ao pé da cruz

Aquela mulher o teve apesar de tudo. Desconfianças não faltaram. Imaculada conceição não era algo aceitável naquela época, como não o é hoje. Mas ela foi em frente, não só por aceitar a missão que aquele ser angélico lhe havia dado, como por ser mãe, e é exatamente isso que mães tem por costume fazer, seguir em frente por seus rebentos.

Ele cresceu e se tornou mais do que alguém poderia imaginar. Guiou multidões... ganhou seguidores fiéis, ganhou o ódio de muitos e o amor de outros tantos. Sua mãe permaneceu o acompanhando, não para protegê-lo – como ela sabia que nunca poderia fazer – mas vê-lo e tê-lo sempre por perto. Ela o olhava de longe enquanto ele pregava sobre o Monte das Oliveiras.

Ela certa vez pediu a ele que ajudasse certos amigos da família em um problema mundano. Mundano demais pra quem faz função de messias. O vinho da festa havia acabado e seria uma vergonha para os anfitriões que a festa se encerrasse, seria um sinal de pobreza. A mãe então pediu: “Você não poderia ajudá-los meu filho?”. O filho, possuidor de um poder inalcançável poderia fazer o que quisesse. No entanto, demonstrações de poder para ajudar gente mesquinha não faziam parte de suas prioridades. Mas ele fez. E o fez por sua mãe.

No final, quando já na cruz estava e seus apóstolos o haviam abandonado e o renegado, sua mãe estava lá. Ao pé da cruz sofria chagas maiores que as de seu filho. De certa forma se esvaia junto com ele, mas não demonstrava fraqueza, apenas dor. E ele, ser divino, que havia sido mandado para cá – nesse planetinha horroroso – apenas para dizer para todos que seria legal se parássemos de nos matar e nos odiar um pouco, só para variar, já na cruz, moribundo, bradou aos céus direcionado à seu pai, criador de tudo que existe e onipresente: “Pai, porque me abandonaste?” Porque Deus – seja quais forem seus motivos – o havia abandonado, seu pai – que por um acaso era Deus – o havia deixado para morrer – por uma causa, mas para morrer – mas sua mãe estava lá ao pé da cruz, engolindo a tristeza, pronta para limpar-lhe o sangue da face e beijar seu corpo inerte. Morto. Ela estava lá.

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PS: esse texto, obviamente, está atrasado. Mas dado o tema, acredito que meu erro foi até certo ponto aceitável.

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