A seqüência de ladrinhos estava molhada. Secando com o calor que fazia naquele fim de tarde. A sala cheirava a limpeza e, prostrado em um canto, evitando sujar o trabalho feito, ele esperava pelos minutos que pudesse volta a se locomover sem criar uma trilha suja pelos sapatos.
Como um artesão, que completa uma obra de arte, admirou seu trabalho. Naquele ambiente, tudo estava em seu lugar. As peças formavam novamente um par, as revistas se reencontravam em sua pilha habitual, e até mesmo os móveis exalavam um cheiro de limpeza raro, sem a poeira que, de costume, os cobria.
Refletiu, “alguém que não me lembro, disse, uma vez, que quando respondemos as respostas que nos cercam, inevitavelmente, surgem mais perguntas”. E assim, tornou a olhar sua obra, analisando que o caos que vivia em seu ambiente, ajudava a turvar seus pensamentos. A casa limpa dava espaços em brancos para fazer com que a mente se perdesse em novas perguntas.
Deitou-se, vendo a brancura do teto refletir sobre paredes e no chão, agora ausentes de seus papéis e de seu desarranjo em manter a ordem. “Os espaços vazios parecem que esperam uma resposta de mim, como homens ansiosos por uma atitude”.
Como os pingos de chuva que agora caiam lá fora, em sua mente brotaram-se diversas perguntas. Mas era incapaz de responde-las. Sentiu-se menor. Sabia que se espalha-se as revistas de volta no chão não encontraria a paz dessas palavras que lhe invadiam a cabeça.
Foi até o espelho e observou-se. Velha face conhecida. Sorriu, observando quantos vincos um simples sorriso produziria em seu rosto. Eram poucos, ainda. Bafejou no espelho e, enquanto o calor não dissipava no vidro, fez um símbolo de interrogação.
A dúvida era a circunstância que mais lhe incomodava nesse instante. Como se caminhasse por ladrinhos que não conhecesse, como se não fosse capaz de visualizar o passo seguinte. Sem saber se pisaria em terra fofa ou cairia em um abismo. Voltou para a cama, refletiu. Estava a sombra de si mesmo.
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